quinta-feira, 2 de julho de 2009

[Internacional] Havana Revisited

Yasmin Abdalla
yasmin.abdalla@gmail.com


O turismo em Cuba traz consigo um desequilíbrio de oportunidades. Apesar de empregar 3% apenas da população cubana, segundo o Ministério Cubano de Empregos, essa atividade apresenta um dos maiores fluxos de capital do país. Esses 3% do povo tem acesso a uma verba extra trazida pelos turistas, o que provoca desigualdade no país. Prefiro não tirar conclusões do porquê de Cuba, outrora mencionada por Fernando Moraes em seu livro-reportagem “A Ilha” como um lugar de oportunidades, agora possuir decadentes esquinas de tímidos pedintes se contrapondo com luxuosos hotéis de ricos turistas.


Estar em Havana é ter a sensação de regresso, de volta no tempo. Carros antigos, arquitetura tipicamente colonial, pessoas com ar de sofrimento. Um povo que espreme até o último peso não-convertível, moeda nacional exclusiva para cubanos, na tentativa de comprar o essencial nas famosas tiendas, lojas criadas após a revolução que apresentam preços subsidiados. Um povo que recebe um salário cada vez menos coerente com a economia local, já que a moeda está desvalorizada.


Raul Castro, o novo presidente do país declarou após sua posse que tentará recuperar o peso dos salários cubanos, “estabeleci hoje a meta estratégica de avançar de maneira coerente, sólida e bem pensada, até conseguir fazer com que o salário recupere seu papel e o nível de vida de cada cubano esteja diretamente relacionado à renda que recebe legalmente”.

Não muito longe dali, encontra-se outra Cuba: Varadero. Pólo turístico do país, em que estrangeiros se esbaldam com rum em hotéis espanhóis e funcionários têm acesso a pesos convertíveis (equivalente a um dólar) que podem valer até 24 pesos não-convertíveis. Cubanos que ganham cerca de 10 dólares do governo por mês, o suficiente para viver no país, podem conseguir sua receita mensal em um dia no hotel graças às gorjetas.

Varadero

Em Cuba, todos têm acesso à saúde e à educação assegurados pela constituição. Segundo a ONU alguns indicadores podem comprovar esse avanço. A cada 1000 nascidos, aproximadamente cinco crianças morrem (indicador comparável com o Canadá). E ainda, quase 100% das crianças cubanas freqüentam a escola. Mas alguns cubanos (principalmente, aqueles em contato com os turistas) têm mais direitos que outros. Eles têm cada vez mais acesso a lugares e restaurantes que alguns nunca poderão freqüentar. Qualquer semelhança com o capitalismo desigual, que Fidel e a revolução tanto acusavam, é mera coincidência.

*Créditos das fotos 1 e 2 a própria Yasmin Abdalla, que esteve num recente feriado prologado em Cuba. Ela arcou com suas despesas, não recebeu convite de ninguém e nem foi (ainda não dessa vez) subsidiada pela J.Júnior.

10 comentários:

Felipe Marques disse...

Muito bom texto, Yasmin, como de costume. Acho que podíamos ter colocado um link para o Buscapé com o livro do Fernando Moraes. Fora isso, o trbalho ficou excelente

Rafaela Carvalho disse...

Muito interessante a análise do paradoxo presente em Cuba. É algo que deve ser cada vez mais relatado pelo jornalismo.

Yasmin. disse...

Rafa, esse paradoxo me surprendeu muito quando fui à Cuba. Principalmente por não ser relatado pela imprensa. Devemos abordar cada vez mais essas questões pouco exploradas.

)borbas( disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
)borbas( disse...

Meu avô, vermelho e "cubanista", sempre colocava o último parágrafo deste texto no começo de seus discursos sobre Cuba.

Meu tio, ranzinza e "cingapurista", sempre colocava Cuba como uma ilha de contradições e criticava nosso Che-in-life Fidel.

Cresci vermelho e hoje só vou pra Cuba se venderem Coca-cola na porta do meu hotel!


Parabéns pelo texto e pelas fotos! - webmasterrr, coloca crédito aeee!! tem fotos que são de autoria do pessoal da J.! (em especial, da autora do texto!)

Anônimo disse...

A mi me encanta Cuba! Muy interesante el texto y todo. Felicitaciones a la equipo j.jr y a la periodista que hizo el texto in loco.

Fóssil disse...

Cuba me fascina por muita coisa. Amo a música e a cultrua cubana em geral, e a história e a política sempre acompanhadas de contradições e polêmicas. Acho que teu texto soube trazer muito dessa atmosfera cubana =] É quase uma ode, mas sem perder o tom de denúncia, o que é fantástico... e adorei referência ao Álvaro de Campos, de início. x)

Fóssil disse...

*cultura

=P

Lucas Tófoli Lopes disse...

Pronto, pronto. Agora sim fotos devidamente creditadas! =D

Guilherme D. disse...

Muito bom!!
Ya, a primeira correspondente internacionar da J.Júnior. Pode entrar pra história da empresa já... haha

Li uma matéria na Brasileiros um tempo atrás que mostrava exatamente todos esses privilégios que os turistas tem! O repórter, na ocasião, entrou numa sorveteria. Para o azar dele, estava uma fila tremenda. Mas quando o dono percebeu que ele era estrangeiro, queria que ele furasse a fila!! O repórter recusou, achou um falta de respeito com todos ali.

Por uma boa grana em mãos certas, também pode-se conseguir algumas lagostas, pescadas numa área proibida para os habitantes.