Por Augusto Braz
augustopbraz@gmail.com
A investigação no jornalismo é uma área que oferece diversos riscos à ética do profissional. Isso porque há várias maneiras de se obter uma informação, mas muitas delas – as mais “fáceis”, geralmente – exigem uma certa disposição do jornalista a comportar-se de maneira antiética - violando o direito à privacidade, por exemplo.
Grampos telefônicos, quebra de sigilo, câmeras escondidas, uso de falsa identidade etc. Qual a postura que tomam os jornalistas quanto ao emprego desses recursos para a construção de uma matéria investigativa?
A resposta, na maioria das vezes, vem da já conhecida história do interesse público. Se aquela atitude for essencial para a obtenção de uma informação de grande importância para a sociedade, ela é justificada. O uso da microcâmera, por exemplo, não é a primeira opção da maior parte dos jornalistas, mas ela pode ser indispensável para conseguir dados em uma reportagem. Em nome do interesse público, esconder a câmera se torna um ato compreensível. Fazê-lo para atrair mais audiência ou em nome de uma maior repercussão da reportagem, entretanto, não é tão incomum quanto deveria ser.
Mesmo quando há um grande interesse público envolvido, cometer um crime não é válido a fim de denunciar outro. Por isso o grampo ilegal e o uso de falsa identidade não são opções. É absurda, por exemplo, a ideia de “simular” um crime em nome de uma reportagem, como no caso das duas jornalistas de Brasília que tentaram sequestrar um bebê com o objetivo de demonstrar a falta de segurança em um hospital público, detalhado no texto “Vale tudo no jornalismo investigativo?”, de Alberto Dines.
Outra questão importante relativa à ética da investigação jornalística é a defesa do suspeito, que não pode ser ignorada. Em qualquer reportagem desse tipo, pesquisar os argumentos de defesa dos acusados é essencial para que não ocorra o usual “pré-julgamento” das mídias. A suspeita deve ser publicada como tal, de maneira que não haja margem para dúvidas quanto a isso. Antecipar-se ao julgamento em qualquer caso e apontar pessoas como culpadas enquanto ainda são realizadas as investigações são faltas comuns cometidas pela imprensa.
Fazer jornalismo investigativo é muito difícil, não há dúvida. É preciso ser cauteloso em diversos aspectos e buscar sempre ignorar interesses pessoais (ou empresariais) para focar as reportagens naquilo que é verdadeiramente de interesse público. E não naquilo que simplesmente desperta curiosidade ou chama atenção.
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