Por João Saran
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Na União Soviética, aqueles que eram considerados traidores da pátria eram retirados das fotos oficiais. Assim, buscava-se reconstruir a história. No Brasil, uma revista masculina de grande circulação retoca as fotos das modelos. A alteração é feita com fins estéticos. É possível comparar os dois casos?
Para Ed Viggiani, pode-se aproximá-los no que se refere à maneira como nos dirigimos ao real. “Uma questão central na fotografia digital é a da ética, o comportamento que teremos diante da realidade. Queremos contar o mundo como ele é ou criar um mundo ideal? Daqui a cem anos, tentaremos ver quem era a mulher brasileira através destas imagens retocadas e não será possível.”
Neste ponto, lança um alerta com relação à própria credibilidade da fotografia, já que nossa sociedade costumava enxergá-la como a representação mais fiel do real, um documento socialmente aceito de que algo aconteceu. “Uma publicação de grande circulação precisou publicar uma foto da foto que estava em sua capa e um texto sobre ela para tentar provar que não usava uma montagem”, lembra Ed.
No entanto, Ed Viggiani afirma que, profissionalmente, é praticamente impossível fotografar sem a tecnologia digital hoje em dia. Ele, fotógrafo há trinta anos, adotou a câmera digital há apenas um. Acredita que seu trabalho com máquinas analógicas era diferente. “Minhas fotos eram mais reflexivas, quadro-a-quadro, tudo parecia mais pensado. A instantaneidade do digital dificulta isso.” Com analogia bem-humorada, ainda falou sobre as conseqüências da popularização da prática fotográfica ocasionada pela nova tecnologia. “Estamos criando o fotografês, uma nova linguagem”, arremata.
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