sábado, 14 de novembro de 2009

[Cinéfilos] Rita Buzzar fala sobre “Budapeste”

Rafael Ciscati
rafaelciscati@gmail.com

Como traduzir em imagens uma composição literária? Para a roteirista e produtora Rita Buzzar, é esse o grande desafio (e o grande prazer) de sua profissão. Afinal, foi ela a responsável pelo roteiro e produção de Budapeste, filme baseado na obra homônima de Chico Buarque.

Formada em audiovisual pela Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP), Buzzar voltou às origens nessa sexta-feira, 13, ao participar do “Cinéfilos Apresenta…”, evento organizado pela J.Júnior  que aproxima público e realizadores para discutir a sétima arte. Nessa edição, a empresa contou com a parceria da Petrobrás. Após a exibição do filme, a produtora falou sobre os cuidados que o longa exigiu- quatro anos de trabalho, durante os quais releu o livro mais de vinte vezes.

Co-produção entre Brasil, Portugal e Hungria, Budapeste conta a história de José Costa (Leonardo Medeiros) um ghost writer atormentado, cujo relacionamento com a esposa Vanda (Giovanna Antonelli) vai de mal a pior. É na cidade húngara de Budapeste que José encontra Kriska (a atriz húngara Gabriella Hámori), por quem se apaixona. Motivo de alegria para José, vislumbre de problemas para Rita: “Eu sabia que os grandes problemas de produção, se houvesse, aconteceriam na Hungria.” A começar pela distância do idioma- mesmo o inglês utilizado pelos húngaros diferia do inglês falado pelos brasileiros: “Eu me referia ao roteiro,  eles falavam em ‘book’, e eu me perguntava- ‘por que esse cara fica falando o tempo todo sobre o livro do Chico? ’”.

Além dessa, a capital húngara ainda reservava outras peculiaridades- ao contrário do Brasil, o país não tem uma tradição forte em televisão. Os atores húngaros presentes no filme fazem parte de companhias de teatro, cujos cronogramas são extremamente rígidos, não tolerando qualquer atraso nas filmagens: “Se você pede para a companhia liberar a Gabriella por três semanas, são três semanas. Três semanas e meia já não dá.”

A isso se junta a responsabilidade de transpor para as telas o livro de um autor vivo, em evidência, e participativo. Além de ajudar na escolha do diretor, Walter Carvalho, e fazer uma ponta como ator no final do filme, Chico acompanhou o processo de criação das duas versões do roteiro. Nada que incomodasse Rita, segundo a qual o compositor é “provavelmente a pessoa que menos exerce poder”. De acordo com ela, quando se trata de adaptações de obras literárias para o cinema, há quatro tipos de autores:

1- Aqueles que não permitem a adaptação da obra

2-Aqueles que permitem, mas não veem o filme

3- Aqueles que compreendem as distinções entre cinema e literatura

4-Aqueles que veem o filme, mas reprovam o resultado

Para ela, Chico está seguramente na terceira classificação- ele entende que, por vezes, o que funciona na literatura não casa com o cinema: uma personagem pode precisar ser suprimida, como aconteceu com irmã  gêmea de Vanda, em Budapeste; outras terão de ser desdobradas.  O que preocupa Buzzar, no entanto, é o fato de o cinema fixar imagens, substituindo a liberdade imaginativa que o livro oferece: “a Budapeste do filme não é a Budapeste de quem leu o livro, não é a Budapeste do Chico”, sentencia.

Ao final do evento, foram sorteados kits contendo DVDs da obra. Budapeste estreou em circuito comercial dia 22/05, e ainda está em cartaz em algumas praças. O filme esteve entre os cotados para representar o Brasil na disputa por uma indicação de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2010, mas perdeu lugar para Salve Geral.

 

3 comentários:

Natyara Amorim disse...

Olá, Rafael!
Muito interessante sua matéria e de muita ajuda para o I Seminário de Leitura Comparada (Literatura e Cinema) da Universidade de Pernambuco, do qual eu participo analisando a obra de Chico e o homônimo filme do Walter Carvalho. Fuçei a web por dias e agora encontrei este blog: ufa! Gostaria de agradecê-lo e, já explorando, gostaria de saber se você teve acesso ao roteiro da Rita Buzzar.
Atenciosamente,

Natyara A.

Natyara Amorim disse...

Errata: Aquela cedilçha em "fuÇei", não existe. Puro deslize, rs.

Rafael Ciscati disse...

Olá, Natyara!
Fico feliz por ter te ajudado. Infelizmente não tive acesso ao roteiro: todas as informações reproduzidas no post surgiram à partir do debate com a própria Rita Buzzar.
Boa sorte com suas pesquisas e com o Seminário!