domingo, 14 de agosto de 2011

Crítica musical e Jornalismo

João Vitor Oliveira                                                                                                 jvascon.oliveira@gmail.com

Em 1984, Nasi, vocalista do Ira, foi à Folha de São Paulo e tentou agredir o jornalista Pepe Escobar, após crítica feita por este ao rock paulista. Ninguém gosta de ser julgado negativamente, ninguém gosta de ver seu cantor favorito mal falado, mas a crítica musical vai muito além da mera opinião do jornalista. “Não é a simples exposição do gosto”, é o que diz Carlos Calado, no ramo desde a década de 1980, em entrevista concedida por telefone.

Não é a toa que os jornais impressos abrem espaço para a crítica musical, afinal, ela é, antes de tudo, jornalismo. Seu texto deve ser atraente do ponto de vista jornalístico. Não se pode desvincular dessa área de atuação, por exemplo, o valor da imparcialidade. O crítico musical, segundo Calado, deve analisar as obras sem quaisquer preconceitos, transmitindo ao leitor seus principais aspectos. “A função é, antes de tudo, respeitar o público, não menosprezá-lo, fornecer elementos para ele tomar suas decisões”.

Atualmente, porém, a área sofre mudanças significativas, assim como todo o jornalismo cultural do meio impresso. “O espaço para a crítica tem sido reduzido radicalmente (...) Isso está ligado com uma redução que o próprio espaço dos cadernos culturais tem nos jornais. Um caderno cultural como a Ilustrada chegou a ter, 20 anos atrás, 50% a mais de espaço”, estima Calado.

Essa redução acaba distorcendo as formas e funções da crítica. Com menos espaço, elas passam a ter menos conteúdo, passam a ser mais “ralas”, como o próprio entrevistado define. Ao invés de análises trabalhadas, os jornais têm preferido adotar o modelo americano da prática de atribuir estrelinhas, avaliações numéricas às obras, somente classificando-as como boas, ruins ou regulares. Para Calado, isso faz com que cada vez mais o crítico tenha o simples papel de dizer para o leitor: “eu estou decidindo para você se você deve ou não comprar este produto”.

Além disso, a diminuição do espaço repercute sobre o trabalho do próprio crítico musical. Se em décadas passadas já era difícil encontrar alguém que se ocupasse somente disso, hoje é praticamente impossível. O jornalista, atualmente, faz um pouco de tudo. Assim, não é possível definir o cotidiano de um crítico de música, a área é somente uma das várias ocupações dele.

Outra mudança relatada por Calado é a crescente especialização dos jornalistas da área. Não raro vemos aqueles que se definem como “crítico de rock”, ou “crítico de MPB”, por exemplo. “Eu venho de uma geração eclética, que ouvia praticamente todos os tipos de música”, comenta, explicando a importância maior que o rádio tinha na sua juventude.

Carlos Calado já cobriu shows e festivais de música em diversos países e escreveu vários livros sobre música. Trabalhou como crítico musical na Folha Ilustrada, de onde saiu em 1994, mas continua exercendo o papel em casa. Para quem se interessar em conhecer seu trabalho, ele reproduz boa parte de seus textos (críticas, reportagens, entrevistas) em seu blog Música de Alma Negra.

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