quinta-feira, 9 de junho de 2011

Perfil Jornalístico: o diferente na multidão

Larissa Teixeira                                                                                                                     laari.teixeira@gmail.com

Vivemos em um tempo tecnológico, do superconsumo e da superprodução, em que parecer ser é cada vez mais importante do que ser.  Isso afeta a individualidade de cada um e, assim, fica muito difícil se destacar na coletividade. Para Sergio Vilas-Boas, mestre e doutor pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, nosso tempo tem a singularidade de valorizar a individualidade ao mesmo tempo em que a nega. Somos todos preparados para representarmos personagens criados por nós mesmos, o que torna a vida do dia a dia extremamente ficcional.

O jornalista esteve presente no segundo dia do ciclo de palestras “História que se contam: o jornalismo em grandes reportagens”,para falar sobre “Perfil Jornalístico”, seu modo de lidar com as individualidades e a melhor maneira de escolher seu protagonista.

Primeiramente, Vilas-Boas caracteriza o perfil como um gênero sobrevivo: "Uma das melhores coisas no perfil é que o autor pode se relacionar com o personagem que ele escolheu." Para ele, uma pessoa não é um personagem em si - ela só tem importância porque alguém a escolheu. E para escolhê-la, é preciso eliminar certas dicotomias falsas: o conhecido x desconhecido, o comum x incomum. O critério de seleção é único: buscar, pesquisar e observar pessoas que agem diferentemente da multidão. “Sempre existiram pessoas que escolheram não seguir a manada, mas hoje isso não é incentivado”.

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Ele acredita que o autor e o personagem trabalham num processo conjunto de construção do perfil. "O que eu escrevo sobre alguém é também sobre mim", comenta. Assim, todo texto biográfico é também autobiográfico e o retrato nunca será 100% natural e espontâneo, já que a reflexão do autor também é fundamental para um bom perfil jornalístico. O autor não deve jamais idealizar seu protagonista, e sim utilizar elementos humanizadores, ao mesmo tempo em que evidencia sua singularidade.
Para finalizar, Vilas-Boas dá dicas de como fazer um perfil jornalístico em cinco passos:

1. Pesquisas e busca de conhecimento de fundo

2. Conversações e diálogos: suas com o protagonista, com as pessoas próximas e consigo mesmo

3. Movimentações: movimentar-se com o personagem central é decisivo - é preciso convidar a pessoa a trocar de espaços para que você tenha episódios do presente balanceados com episódios do passado

4. Observações: o que você abstrai a partir da linguagem verbal e não verbal

5. Reflexões: suas e do próprio personagem.

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