quinta-feira, 9 de junho de 2011

O Jornalismo de Guerra e os riscos da profissão

João Vasconcelos                                                                                                                              jvascon.oliveira@gmail.com

Esportes. Música. Política. Muitos são os campos de atuação em que um jornalista pode escolher trabalhar, mas poucos são aqueles que decidem por especializar-se no perigoso ramo do jornalismo de guerra. “Não é algo para que se envia uma pessoa. Você convida”. É o que diz Sérgio Dávila, que cobriu a Guerra do Iraque para a Folha de São Paulo, em palestra sobre o tema no evento “Histórias que se contam: o jornalismo em grandes reportagens”.

O jornalista começou a conversa contando como foi parar na área. Correspondente da Folha em Nova York, foi o único brasileiro a cobrir, no jornal impresso, os ataques às torres gêmeas no 11 de Setembro. “Isso me credenciava a ser convidado para a guerra do Iraque”.

Falando sobre os aspectos do jornalismo de guerra, o palestrante diz que este deve ser como o jornalismo de outras áreas: imparcial, objetivo, analítico. Porém, enfatiza os inegáveis riscos fatais associados à profissão. “A diferença é uma só: o risco de morrer no final do trabalho é grande”. Por conta disso, destacou a existência de cursos de segurança que preparam repórteres de guerra, ensinando-os, por exemplo, como reagir em um cenário de explosões, ou a planejar rotas de fuga.

Segundo Dávila, 16 dos 120 jornalistas que estiveram em Bagdá na guerra do Iraque morreram. Perguntado sobre a experiência de lidar com a morte dos civis, falou ser algo difícil, que se vivencia diariamente, mas que o jornalista deve ter frieza para exercer seu trabalho. “O que a gente tinha que fazer era aprender a lidar com isso em nome de contar a boa história”. Para ele, a morte de um companheiro de profissão atingia de maneira muito mais íntima.

Entrando um pouco mais a fundo na sua rotina em Bagdá, onde trabalhou ao lado do fotógrafo Juca Varella, Dávila falou sobre as várias dificuldades que encontravam. “Tentamos criar uma rotina no caos”, disse, acrescentando que “todo dia alguma coisa nova dificultava”. A preferência de fontes eram as não oficiais, o povo iraquiano, o que rendeu o livro A guerra segundo os bombardeados, escrito pelo jornalista.

Apesar dos riscos, o palestrante destaca, ao ser perguntado se sua perspectiva de jornalismo havia mudado, a importância que a experiência teve em sua carreira. “Fui para lá um jornalista e voltei outro”. Segundo ele, a guerra é “um ambiente de superjornalismo, onde tudo é levado ao extremo”.

Para os jornalistas em formação que se interessam por este ramo, Dávila recomenda, primeiramente, que se adquira experiência em editorias internacionais e, posteriormente, busque-se trabalhar como correspondente em pelo menos dois países, para só então se entrar no campo do jornalismo de guerra. “Antes disso, acho que é prematuro e perigoso”.

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