Raissa Pascoal
Curioso. Além de um adjetivo para caracterizar o jornalista, o curioso é um substantivo que pode ser o sujeito de uma notícia. Marcelo Duarte aprendeu isso no início da sua carreira, na revista Placar. Apesar de amada pelos meninos por tratar de futebol, a publicação tinha um problema: saia às terças-feiras. “O torcedor já ouvia o jogo no rádio, assistia à mesa redonda e os gols no Fantástico no domingo, comprava o jornal que fala dos gols na segunda. O que o faria comprar ainda uma revista na terça-feira?”.
A resposta de Marcelo é “o momento curioso, informações que prendam a atenção da pessoa”. Para fazer com que o torcedor comprasse a revista, a redação tinha que trazer uma coisa diferente, mostrar o que os outros meios não mostravam, fazer a pergunta que ainda não tinha sido feita. Portanto, para Marcelo, o trabalho na revista Placar foi uma escola. “Foi a revista que me ajudou a me alfabetizar”.
Em uma situação, já na revista Veja, o jornalista se viu diante de uma notícia sobre o atendimento na fila bancária. Ele conta que demorou 2 horas e 10 minutos para ser atendido, o que faria parte do seu abre. Mas ainda faltava alguma coisa, porque isso todo mundo podia saber. O trunfo foi inserir o diferente para causar interesse no leitor. A comparação com uma lesma, que percorreria a mesma distância da fila em 30 minutos a menos lhe resultou em elogios e numa outra forma de se fazer jornalismo.
Sua experiência de 15 anos em revista e curiosidades como a da lesma sendo arquivadas o ajudaram na criação de seu livro “O Guia do Curiosos”, de 1996, no qual se fez perguntas que ainda não tinham sido feitas. “As pessoas ou têm vergonha ou acha que a pergunta é boba”. E deu no que deu: um livro com cerca de 189 mil exemplares vendidos só nos primeiros 10 anos.
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