terça-feira, 5 de abril de 2011

A voz das ruas do Cairo

Anna Carolina Papp

annakps@gmail.com

José Antonio Lima chegou ao Egito cerca de uma semana após os primeiros protestos contra o presidente Hosni Mubarak, que governa o país há 3o anos. Em clima de tensão, as manifestações de diversos grupos continuavam na praça Tahrir, onde se podia ouvir constantemente o grito “Erhal!” – “Saia!”.

Para José, nessas coberturas, o mais interessante é a voz do povo, a voz das ruas; afinal, tratava-se, para ele, do primeiro protesto de peso de todo o mundo árabe. “Ouvir a voz dessas pessoas, oprimidas há 60 anos, era o foco principal.”

Nas manifestações, encontravam-se famílias inteiras, incluindo até mulheres e crianças, algumas participando ativamente; assim, José ressalta a importância de capturar a motivação daquelas pessoas. “É muito possível fazer um retrato vivo só com texto; mostrar para o brasileiro o que ele não consegue ver – o que as pessoas de lá pensam, o que os líderes pensam.” José diz que falar com líderes políticos, como membros da irmandade muçulmana, é uma tarefa difícil, que só foi possível graças à ajuda de outros jornalistas, como repórteres de agência de notícias.

Em situações de conflito, José aponta a importância do controle emocional mesmo em meio à tensão latente: “É claro que eu estava com medo. O que não pode acontecer é o nervosismo tomar conta de você até o ponto de você não conseguir fazer o seu trabalho.”

José afirma que este é um momento decisivo para o Oriente Médio, um turning point. Para ele, “juntamente com os atentados de 11 de setembro, [o protesto] é o evento internacional mais importante desde a Segunda Guerra Mundial. [...] As monarquias talvez continuem no poder, mas os governos autoritários, que não têm legitimidade nenhuma, acabarão ruindo com o tempo. Só não se sabe o que é que vai surgir no lugar deles.” Contudo, dá seu palpite: “Sou otimista ao ponto de pensar que o Egito poderá configurar a primeira democracia do mundo árabe."

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