Por Juliana Santos
juliju-santos@hotmail.com
No último post, conhecemos um pouco a história e a importância social do jornalismo científico. Agora, conversando com jornalistas e pesquisadores da área, reunimos algumas dicas para aqueles que se interessam pela cobertura científica.
Entre os pontos mais ressaltados estão a vontade de estudar e se informar sobre o assunto e o cuidado na hora de se relacionar com as fontes - para evitar conflitos nesta relação que já é tão delicada. Além disso, um bom jornalista científico deve saber lidar com infográficos e ter domínio da língua inglesa.
Formação
O jornalista científico tem de lidar com uma grande diversidade de temas complexos. Isso torna essencial que ele possua um conhecimento especializado na área, para que possa se articular sobre o assunto e não apenas reproduzir o que dizem seus entrevistados.
No entanto, não existe uma formação exata e obrigatória para esse profissional. Ele pode tanto se formar em um curso superior voltado à ciência (física, biologia, engenharia, etc) e se especializar em jornalismo, como pode ser um jornalista que cursa uma especialização, ou mesmo que seja mais autodidata e se interesse pela área.
“Não há nenhum curso no Brasil que prepare integralmente para a área de ciências e tecnologia”, afirma Wilson Bueno, primeiro doutor em Jornalismo Científico do Brasil e ex-presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Científico. Por esta razão, cabe ao jornalista se aprimorar cada vez mais. Para isso, ele não precisa necessariamente fazer um curso: pode ler, estudar por conta própria e até mesmo freqüentar congressos científicos. “Precisa ter disposição para encarar temas complexos, estudar mesmo”, completa Wilson.
"Em geral envereda para a ciência quem já tem um certo encanto por essa área”, reforça Alexandre Gonçalves, repórter do caderno Vida, do Estado de São Paulo.
Fontes
No jornalismo científico, o relacionamento com as fontes (em geral cientistas e pesquisadores) pode ser turbulento. Existe uma tensão, um receio de que o jornalista não reproduza corretamente as informações – que necessitam de precisão. Questionada sobre o problema da divulgação de informações, Beth Gonçalves, pesquisadora de Comunicação Científica e Tecnológica, foi categórica: “Com certeza! É o grande dilema que se vive. Há uma reserva de informações”.
Alexandre ressalta a importância de estar bem informado sobre o trabalho do entrevistado: “se tem uma coisa que irrita um pesquisador é você chegar pra conversar com ele e falar ‘e aí, o que tem de importante? ’. Você demonstra claramente que não entendeu nem o abstract do que ele escreveu, que você está pedindo pra ele ‘pelo amor de Deus, me explica alguma coisa’”.
Na hora de escrever, o que importa não é concordar plenamente com o entrevistado, mas jamais alterar ou descontextualizar seu ponto de vista.
Segundas intenções
É preciso estar atento para que uma notícia sobre alguma inovação científica não se torne propaganda de uma empresa ou produto. “É comum a divulgação de um dado de pesquisa científica estar acompanhada do produto, por exemplo, que utiliza os resultados dessa pesquisa. O jornalista deve saber distinguir os propósitos da divulgação para não ser conivente com práticas não éticas”, alerta Beth Gonçalves.
O que o jornalista deve fazer, mesmo em casos em que apenas uma instituição detém a tecnologia que se pretende noticiar, é buscar fontes independentes. “É preciso estar atento à interferência de interesses não científicos. Perceber o que está por trás das notícias”, alerta Wilson Bueno.
Alexandre Gonçalves conta que diversas vezes recebeu convites de viagens ou jantares. “O repórter nem cogita passar isso para uma instância superior, barra nele mesmo”, conta. “Geralmente são pautas que eu acho furadas. É muito claro que é propaganda”.
What?
Falar inglês é fundamental nessa área. Faz parte do cotidiano do jornalista científico falar com pesquisadores no exterior, ler revistas científicas famosas e procurar “papers” (artigos científicos) que são produzidos majoritariamente em inglês. “A ciência no mundo todo se comunica em inglês”, declara Simone Pallone, jornalista da revista ComCiência.
Beleza e utilidade
Que tal um infográfico para facilitar o entendimento de um processo biológico complicado? A área científica é uma das que mais se utiliza deste recurso, tanto para despertar o interesse do público quanto para tornar a informação mais palatável. Por isso, é preciso que o jornalista tenha afinidade com a infografia, saiba “pensar graficamente” para enriquecer suas matérias.
E não adianta dizer que não sabe desenhar. A maioria dos veículos possui uma seção de infografistas. "O que você precisa saber fazer são esboços, mesmo que seja em papel, desde que você consiga organizar suas idéias de modo que seja viável de ser infografado", explica Alexandre.
Enfoque
O avanço da ciência faz com que constantemente criem-se mais pautas para o jornalismo científico. Para Wilson Bueno, esse crescimento faz com que os veículos acabem sendo praticamente “forçados” a cobrir a área. Desta forma, um jornalista especializado, capacitado a sugerir boas pautas, pode abrir as portas para o jornalismo científico no veículo em que trabalha. Para isso, é preciso que sua visão sobre a ciência seja capaz de adaptar as matérias ao público-alvo do veículo.
A pesquisadora Simone Pallone afirma que, no jornalismo científico “é preciso que o jornalista entenda que nem sempre o resultado da pesquisa é a única informação importante. Os processos científicos são valiosos para a evolução do conhecimento, assim como o avanço de uma área da ciência em termos de aumento de pesquisadores, atenção que vem recebendo, e recursos”.
1 comentários:
excelente matéria! valeu Jota!
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