domingo, 24 de outubro de 2010

[Científico] Um pouco de história

Por Carolina Vellei
carolina.vellei@gmail.com

O JC começou a ser pensado logo depois da invenção da imprensa de tipos móveis de Gutenberg. Logo as idéias e descobertas eram divulgadas pelos cientistas, mas claro, ainda para um público limitado de letrados. O JC propriamente dito surgiu somente dois séculos depois. Em 1609, na Alemanha, despontavam alguns periódicos que faziam divulgações científicas. Ao mesmo tempo, o astrônomo italiano Galileu Galilei publicava o livro “Mensageiro Celeste” que contestava alguns dogmas religiosos. A publicação despertou a ira da Igreja justamente por ter uma linguagem clara e objetiva (um dos princípios do JC) e, portanto, acessível à população.

Esse período foi de grande efervescência para a ciência, o que acabou provocando uma imensa troca de cartas entre os cientistas. Em meados do século XX, Henry Oldenburg, cientista alemão, percebeu que o caráter informal e fragmentado delas tinha potencial para publicação em jornais. O alemão criou diversos periódicos, sendo o mais importante o Philosophical Transactions, que durou mais de dois séculos, e serviu de referência para as diversas publicações científicas modernas. E assim nasce a profissão do jornalista científico.

E no Brasil?

Aqui no Brasil, excetuando-se alguns casos pontuais, o JC começou a ser pensando depois da Primeira Guerra Mundial, com preocupações armamentistas. Um dos motivos desse retardo é a nossa história de censura e controle dos meios de comunicação. Outro é justamente a histórica falta de investimentos em Ciência e Tecnologia (C&T). Isso começou a mudar um pouco durante a ditadura militar. Graças à doutrina nacionalista do período, para tornar o país “soberano e independente” os militares investiram fortemente em desenvolvimento tecnológico. Porém, o jornalismo científico foi rigorosamente censurado e era obrigado a divulgar os avanços de forma romântica e ufanista, bem ao gosto dos generais. Ainda hoje as atividades de C&T estão fortemente apoiadas no capital governamental.

Personagens de destaque do jornalismo científico

Podemos citar grandes precursores do cientificismo popular. Euclides da Cunha foi um deles. Foi jornalista, militar e engenheiro civil. No começo do século XX, registrou no livro Os Sertões diversas impressões sobre a região de Canudos. Eram recheadas de observações sobre a influência do clima, da qualidade da terra e outros fatores naturais na ação dos homens. Preconizador do jornalismo científico e ambiental contextualizado, Euclides mostrou que essas informações dão suporte à compreensão da realidade.

José Reis é considerado o patrono do jornalismo científico. Foi médico, pesquisador e jornalista e escrevia semanalmente na Folha de São Paulo de 1947 até 2002, quando faleceu. Grande incentivador da divulgação científica, Reis fundou em 1948, juntamente com outros cientistas, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. A SBPC foi criada para discutir a função social da ciência. Para ele, a ciência é intrinsecamente ligada à sociedade, devendo sempre trabalhar em prol de sua importância para o desenvolvimento e bem-estar do homem.

O boom do jornalismo científico

A década de 1980 agitou o mundo científico. A passagem do cometa Halley (1986), a descoberta da supernova de Shelton (1987), as diversas viagens espaciais e as questões ambientais causaram grande movimentação da mídia para a cobertura de eventos científicos. Ficava cada vez mais claro que C&T fazia parte da vida das pessoas mais do que elas imaginavam. Surgiram diversas revistas, e cada vez mais as editorias dos jornais se estruturaram e abriram espaço para esse assunto. Com o passar do tempo, as assessorias das universidades e das instituições voltadas à pesquisa começaram a se organizar e a produzir informativos sobre suas descobertas e, inclusive, a alimentar os veículos de comunicação com esses conteúdos.

Ainda hoje é um desafio produzir um jornalismo científico de qualidade. Em muitos casos ele ainda é carregado de romanticismo ou superficialidade. Isso é consequência de algumas abordagens que são apenas denuncistas e alarmistas, e que não analisam e expõem criticamente contrapontos para a sociedade.

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