Por Juliana Santos
juliju-santos@hotmail.com
Um dos principais atrativos do jornalismo científico é a diversidade de temas explorados. Por esta razão, nós vimos anteriormente a importância de estar por dentro do assunto e se relacionar bem com as fontes, a fim de obter informações precisas e relevantes. Mas, após a apuração, há ainda mais um desafio para o jornalista científico: a linguagem utilizada na hora de escrever a matéria.
O caderno de economia costuma ser o campeão de críticas, por ser escrito com uma linguagem considerada muito específica e complexa para leitores que não são da área – o chamado “economês”. Mas esse problema não é exclusividade dos economistas. Para Alexandre Gonçalves, repórter do caderno Vida, do Estado de São Paulo, existe também o “cientificês”.
O uso de linguagem inadequada na cobertura científica provoca um afastamento ainda maior do que aquele que se espera normalmente por parte do leitor. “Ele vai começar a ler a notícia e pensar ‘não, ele não está falando comigo, esse repórter não escreveu isso para mim’ e então vai virar a página”, afirma Alexandre.
Para que isso não aconteça, é preciso fazer a passagem do discurso do especialista para uma linguagem compreensível aos leitores. Mas Wilson Bueno, ex-presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Científico, chama atenção para um fato importante: “existe aí um limite para não subestimar a capacidade do leitor/espectador”. “Deve-se tomar cuidado para que a divulgação não se torne vulgarização. O termo difícil, técnico, pode ser entendido pelo público, desde que bem utilizado”, concorda Beth Gonçalves, pesquisadora de Comunicação Científica e Tecnológica.
Segundo Alexandre, a questão da linguagem é uma das razões do receio que apresentam alguns especialistas ao serem entrevistados. “Eu acredito que às vezes o grande temor que os pesquisadores têm é que a sua linguagem se perca e você acabe falando algo que as pessoas entendem, mas que não é o real, não está correto”.
Entender bem o assunto é primordial
A primeira medida a se tomar para não ficar preso aos termos usados pelo entrevistado e poder transmitir a informação ao público com clareza e precisão é sem dúvidas a velha dica: entender bem o assunto. “É preciso que primeiro o jornalista tenha uma clara ideia do que vai noticiar, para poder explorar com as fontes maneiras de interpretar as informações recebidas e poder repassá-las ao público”, alerta Simone Pallone, jornalista da revista ComCiência. Alexandre Gonçalves conta que age da mesma forma: “o que eu costumo fazer é pedir para a pessoa me explicar o assunto e depois eu repito varias vezes para que ela cheque se a minha compreensão está correta”.
A importância do meio
O veículo para o qual se escreve também influencia na linguagem utilizada. Publicações possuem públicos-alvo distintos, de forma que numa revista especializada é preciso ser menos didático do que num jornal diário. Wilson Bueno dá outro exemplo: “a linguagem do Estadão é diferente do Jornal Nacional”. Segundo ele, os leitores do Estado são em sua maioria estudantes e pessoas escolarizadas, enquanto o Jornal Nacional é apresentado a um público bem mais abrangente e heterogêneo – e tais fatores devem ser levados em conta na hora de se escolher a linguagem empregada.
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