domingo, 4 de setembro de 2011

O que o seu retrato disse para o fotógrafo?

Marina Salles                                                                             marina_salles_@hotmail.com

A V Semana de Fotojornalismo terminou nessa sexta-feira com a premiação das melhores fotos tiradas na Praça da Sé, destino escolhido para a saída fotográfica desse ano. Atílio Avancini, fotógrafo e professor da ECA-USP, e Priscila Prade, fotógrafa dedicada principalmente a retratar pessoas, comentaram as fotos premiadas.

DSC_0006

O primeiro colocado - Adalto Lima Duarte de Farias – revelou ter feito um verdadeiro trabalho braçal, que durou aproximadamente seis horas, para conseguir o resultado esperado na revelação de A vaidosa e os paparazzi. A foto que lhe rendeu o prêmio e muita satisfação retrata uma moradora de rua retocando a maquiagem. Para Priscila Prade a foto de Adalto reúne em si reúne elementos do ícone da própria fotografia, já que, produzida em uma máquina quase analógica, guarda pequenas “manchinhas” que só acrescentaram valor à sua produção. Além disso, a fotógrafa ressaltou na foto a presença do ícone do feminino, dizendo que “a imagem do feminino independe de classe social, é atávica do ser humano”.  E por último considerou o impacto gerado pela cena que escolheu para premiar com o primeiro lugar, em meio a outras dez fotos anteriormente selecionadas pela Jornalismo Júnior.    

DSC_0005O segundo lugar ficou com Pedro Alves dos Santos e a São Paulo ocupada, que em um retrato criativo da cidade não perde espaço mesmo tendo sido resultado, talvez, de algo previamente idealizado, segundo o próprio Atílio Avancini. No sentido da representação de um ícone a foto de Pedro aparece relacionada à comunicação, que aliada à ideia do telefone fora do gancho ganha efeito de sentido no caminhar das pessoas de costas em segundo plano na imagem.

DSC_0008 (2)

Já a terceira colocação coube a Raquel Nogueira Faleiros que com Profissão de Fé soube agregar à sua imagem o ícone religioso de forma inovadora, utilizando-se de recorte diferenciado de uma cena da catedral associada à presença dos mendigos na praça.

Em seguida ao evento de entrega dos prêmios teve início a palestra de encerramento, cujo tema foi: “Pessoas”. Priscila Prade destacou em sua apresentação um trabalho que desenvolveu acerca da transformação de celebridades em seus próprios ídolos, do qual resultou um livro de fotos intitulado Eu queria ser. E durante o debate, discutiu ainda sua paixão em retratar pessoas, o que desde criança já a fascinava. Segundo ela, quando se trata de fotografar pessoas, o importante é que aquele que é fotografado permita que o fotógrafo tenha um olhar particular sobre a cena: “ao fotografar uma pessoa estou aberta a interpretá-la, é como se eu fosse contar uma história”.

316174_209491805779120_100001549059317_541651_2272648_n

Já o fotógrafo Márcio Scavoni decidiu se apresentar por meio de um curta que conta um pouco sobre seu livro Luz invisível: “Aparece um homem numa cidade oferecendo-se para fotografar as pessoas. Diz que não cobra nada por isto, fotografa-as na rua e no seu estúdio. Um dia o homem desaparece, tão misteriosamente como tinha aparecido. E então surge a teoria mais estranha e por isso mesmo a que tem mais aceitação: o homem devia ser um enviado de outro mundo e de outro planeta, de outra dimensão. Seu trabalho talvez fosse o de coletar gente ou imagens de gente e transmiti-las para o seu planeta, onde haveria uma crise de imagens ou de gente. E pensando bem não seria uma teoria tão descabida assim, porque o que um fotógrafo faz é transmitir imagens desse mundo para outro. Um outro mundo banal, não muito diferente deste, se o fotógrafo for medíocre, mas um mundo só dele. Numa galáxia particular com seu próprio clima e com seu próprio universo de referência, se for um Scavoni.”

302753_209491685779132_100001549059317_541648_1412168_n

E após expor uma mostra de seu trabalho, Marcio Scavoni questionou a valorização de uma pseudo simultaneidade nos retratos de pessoas, dizendo que “quase tudo é uma pose”. E apesar de reconhecer que as pessoas fotografadas são levadas a manter um certo comportamento, acredita que isso seja tão sutil que, ainda assim, elas chegam a acreditar que mantém alguma liderança sobre a situação. Para o fotógrafo, é possível se utilizar de recursos para retratar as pessoas como se quer vê-las. Segundo ele, “todo retrato é um autoretrato”.

0 comentários: