domingo, 25 de setembro de 2011

Retrato do Turista quando Leitor

Por Henrique Balbi                                                                                                           henriquebalbi92@gmail.com

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Leitores

“Pergunto aos meus conhecidos que já foram”, foi como a senhora Ivone Assali me respondeu quando lhe perguntei como se informava a respeito de possíveis passeios turísticos. Continuei interrompendo seu café pós-almoço, querendo saber sua opinião sobre publicações jornalísticas de turismo, ao que ela disse não colocar muita confiança nem em revistas, nem em sites, nem em nada.

Foi a segunda resposta mais freqüente que ouvi, perdendo apenas para “Não costumo viajar para muitos lugares, falta dinheiro”, como disse Josefa Aldevanir Teixeira, dona de uma banca na Av. Paulista. Ela foi além: “Não leio porque vou sempre ao Ceará mesmo, visitar minha família...”

Outra fonte de informações para viagens são as próprias agências responsáveis por organizar os passeios. Adriano Maia, acostumado a procurá-las quando resolve conhecer algum novo destino, me disse “Nem tenho como lhe dar uma opinião sobre as publicações, viu...”.

Já estava imaginando os jornalistas escrevendo para ninguém, falando sozinhos, anotei no meu bloquinho para não ir muito atrás da área de turismo porque não haveria quem lesse minhas matérias mesmo, de que adianta, tanto trabalho sem nenhum retorno?, até ouvir algumas opiniões favoráveis: “Para destinos nacionais, costumo falar com conhecidos, o máximo que consulto é uma lista de restaurantes. Nos passeios internacionais, consulto guias”, disse Márcio Araújo, mais eloqüente dos entrevistados.

“Confio mais nos guias também, apesar de que, antes deles, dou uma olhada rápida na internet. Na verdade, começo a procurar por destinos através da opinião de quem conheço mesmo”, falou Antônio Rorato, juntando-se ao coro.

Dono de uma banca na Alameda Santos, Marcos Spigolon concorda com Rorato a respeito da credibilidade dos guias, diz consultá-los também e, quando lhe questionei das vendas das revistas, afinal, deve haver pouca gente que lê, não é?, “Não, não, elas vendem bastante. As revistas têm uma saída grande”, para o choque deste que vos escreve.

Leituras

Curioso, fiz um pequeno investimento e adquiri alguns exemplares que os donos de bancas me disseram ter mais saída, para procurar o que atrai tantos leitores. Como quem já folheou rapidamente qualquer uma dessas revistas deve saber, não são os textos propriamente ditos, vista a predominância quase que completa de imagens, tanto nas matérias quanto na (vasta) publicidade.

Fotos lindas, lugares paradisíacos, pessoas felizes e diversas frases bem diagramadas e preenchidas de muitos imperativos dominam as publicações. Quando os textos chamam a atenção, é mais pelo afrouxamento dos padrões jornalísticos de impessoalidade, o que os torna algo criativos e muito mais atraentes que grande parte das reportagens escritas de hoje. Os três pilares sobre os quais as revistas se sustentam são as matérias recheadas de fotos, as páginas de serviços, com preços, telefones e endereços, e a publicidade.

Os guias, por outro lado, vão direto ao ponto, focalizam muito mais a questão de serviços. Custam alguns reais a mais – apesar de as revistas não serem baratas –, porém reservam em suas páginas uma maior quantidade de informações úteis, incluindo mapas e descrições mais objetivas e detalhadas, afinal, a maior parte dos guias aborda um único destino, em contraste com as revistas, que vão da Indonésia à Bahia em menos de três propagandas. Nos guias, é mais discreta a publicidade: camufla-se entre a curiosidade histórica e o restaurante gostoso, mas desconhecido, ao invés de agarrar os olhos dos incautos que folheiam as revistas.

As duas categorias, portanto, parecem complementares. Quem quer viajar, acaba indo atrás de várias fontes de informação, hierarquizando-as por credibilidade, desde os amigos mais próximos que tem uma dica de um passeio super-bacana que não está no guia e você tem que fazer, até as revistas, sites e guias que nada mais são do que palpites ampliados e financiados por editoras (e por quem paga a publicidade). Spigolon, o dono da banca da Alameda Santos, sintetizou muito melhor que eu, afinal: “Acredito que ambos vendam bem porque existe muita variedade”.

domingo, 4 de setembro de 2011

O que o seu retrato disse para o fotógrafo?

Marina Salles                                                                             marina_salles_@hotmail.com

A V Semana de Fotojornalismo terminou nessa sexta-feira com a premiação das melhores fotos tiradas na Praça da Sé, destino escolhido para a saída fotográfica desse ano. Atílio Avancini, fotógrafo e professor da ECA-USP, e Priscila Prade, fotógrafa dedicada principalmente a retratar pessoas, comentaram as fotos premiadas.

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O primeiro colocado - Adalto Lima Duarte de Farias – revelou ter feito um verdadeiro trabalho braçal, que durou aproximadamente seis horas, para conseguir o resultado esperado na revelação de A vaidosa e os paparazzi. A foto que lhe rendeu o prêmio e muita satisfação retrata uma moradora de rua retocando a maquiagem. Para Priscila Prade a foto de Adalto reúne em si reúne elementos do ícone da própria fotografia, já que, produzida em uma máquina quase analógica, guarda pequenas “manchinhas” que só acrescentaram valor à sua produção. Além disso, a fotógrafa ressaltou na foto a presença do ícone do feminino, dizendo que “a imagem do feminino independe de classe social, é atávica do ser humano”.  E por último considerou o impacto gerado pela cena que escolheu para premiar com o primeiro lugar, em meio a outras dez fotos anteriormente selecionadas pela Jornalismo Júnior.    

DSC_0005O segundo lugar ficou com Pedro Alves dos Santos e a São Paulo ocupada, que em um retrato criativo da cidade não perde espaço mesmo tendo sido resultado, talvez, de algo previamente idealizado, segundo o próprio Atílio Avancini. No sentido da representação de um ícone a foto de Pedro aparece relacionada à comunicação, que aliada à ideia do telefone fora do gancho ganha efeito de sentido no caminhar das pessoas de costas em segundo plano na imagem.

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Já a terceira colocação coube a Raquel Nogueira Faleiros que com Profissão de Fé soube agregar à sua imagem o ícone religioso de forma inovadora, utilizando-se de recorte diferenciado de uma cena da catedral associada à presença dos mendigos na praça.

Em seguida ao evento de entrega dos prêmios teve início a palestra de encerramento, cujo tema foi: “Pessoas”. Priscila Prade destacou em sua apresentação um trabalho que desenvolveu acerca da transformação de celebridades em seus próprios ídolos, do qual resultou um livro de fotos intitulado Eu queria ser. E durante o debate, discutiu ainda sua paixão em retratar pessoas, o que desde criança já a fascinava. Segundo ela, quando se trata de fotografar pessoas, o importante é que aquele que é fotografado permita que o fotógrafo tenha um olhar particular sobre a cena: “ao fotografar uma pessoa estou aberta a interpretá-la, é como se eu fosse contar uma história”.

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Já o fotógrafo Márcio Scavoni decidiu se apresentar por meio de um curta que conta um pouco sobre seu livro Luz invisível: “Aparece um homem numa cidade oferecendo-se para fotografar as pessoas. Diz que não cobra nada por isto, fotografa-as na rua e no seu estúdio. Um dia o homem desaparece, tão misteriosamente como tinha aparecido. E então surge a teoria mais estranha e por isso mesmo a que tem mais aceitação: o homem devia ser um enviado de outro mundo e de outro planeta, de outra dimensão. Seu trabalho talvez fosse o de coletar gente ou imagens de gente e transmiti-las para o seu planeta, onde haveria uma crise de imagens ou de gente. E pensando bem não seria uma teoria tão descabida assim, porque o que um fotógrafo faz é transmitir imagens desse mundo para outro. Um outro mundo banal, não muito diferente deste, se o fotógrafo for medíocre, mas um mundo só dele. Numa galáxia particular com seu próprio clima e com seu próprio universo de referência, se for um Scavoni.”

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E após expor uma mostra de seu trabalho, Marcio Scavoni questionou a valorização de uma pseudo simultaneidade nos retratos de pessoas, dizendo que “quase tudo é uma pose”. E apesar de reconhecer que as pessoas fotografadas são levadas a manter um certo comportamento, acredita que isso seja tão sutil que, ainda assim, elas chegam a acreditar que mantém alguma liderança sobre a situação. Para o fotógrafo, é possível se utilizar de recursos para retratar as pessoas como se quer vê-las. Segundo ele, “todo retrato é um autoretrato”.

Crenças e a transformação da imagem em um ícone

Jaqueline Mafra                                                                                                         jaquelinemafra@gmail.com

O quarto dia da V Semana de Fotojornalismo teve as presenças de José Cordeiro Albano e Wagner Souza e Silva tendo como tema de discussão “Crenças”.

José Cordeiro começa explicando a imagem de Nossa Senhora Aparecida como ícone. Ele fala que a crença em uma imagem é uma manifestação coletiva e para isso apresenta dois exemplos, uma fotografia de um desfile de carnaval, na qual as baianas estavam vestidas de Nossa Senhora Aparecida, e outra que mostrava uma torcida de um time de futebol estendendo a imagem da Santa no estádio.

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O fotógrafo conta sobre seu trabalho na cidade de Aparecida, onde pode registrar a fé e a devoção à imagem de Nossa Senhora. Disse que existem várias representações da imagem e muitas manifestações de fé em toda região do santuário.

As fotografias apresentadas por José Cordeiro vão de 1995 a 2007. Elas não são importantes por apenas representar uma manifestação religiosa, mas também por mostrar a história de cada personagem.

Wagner de Souza e Silva conta que seu contato com crenças foi a partir do trabalho que realizou no Museu de Arqueologia e Etnologia da USP onde pode ter contato com acervos que mostravam a necessidade do homem em ter uma base mítica.

Sua proximidade com os objetos foi um pouco mais fria, pois tentou levar um olhar mais fotográfico do que jornalístico. Em seu trabalho busca trazer às fotografias não só apenas a imagem, mas também a informação que ela transmite.

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Em um trabalho que realizou com arqueólogos, Wagner procurou deixar de lado a parte cientificas, e trouxe aquela que mostrava o que se passava na realidade. Ele exclui a objetividade da fotografia em situações em que ela deve ser.

Em seu livro mais recente, Xicrin, conta que ousou na manipulação das imagens e pode fazer da fotografia não como uma representação fiel do objeto, mas que poderia passar uma informação.

Wagner encerra dizendo que a fotografia pode se tornar um símbolo e não apenas uma representação do que é fotografado, “se trata de uma fotografia de um objeto e não uma foto de um objeto”.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

[Fotojornalismo] Priscila Prade

Priscila Prade é uma fotógrafa renomada, que participará do último dia de palestras da V Semana de Fotojornalismo.

Quando tinha 18 anos, Priscila foi para a França estudar e praticar a fotografia. De lá, trouxe a exposição “Cinema das Almas” que esteve em São Paulo, Paris e Londres. No Brasil, abriu seu primeiro estúdio e dedica-se principalmente à fotografia de pessoas, tema de sua palestra. Em entrevista para Revista Profashional, Priscila foi questionada sobre o que mais gosta de fotografar, ela respondeu: “pessoas, é quando me envolvo mais. Quando existe a troca, este momento é único”. Assim, ela fotografa retratos, moda, teatro, cinema e também faz ensaios fotográficos e catálogos. Algumas de suas fotos podem ser vistas no site: www.priscilaprade.com.br.

Entre os principais trabalhos de Priscila Prade, está o livro “Eu Queria Ser”, no qual, estão reunidas fotos de celebridades brasileiras, astros da música e da televisão, caracterizadas como personalidades mundiais. No ensaio fotográfico, Sandy virou a Mulher-Gato, Frejat se transformou no Superman, Nando Reis encarnou Van Gogh, Paulo Ricardo se caracterizou como Che Guevara e Eliana ficou irreconhecível como o roqueiro Marylin Manson. Outros famosos participaram das fotos, que são engraçadas e muitas vezes inusitadas.

Fotografia e lugares: a arte da expressão do olhar

Luisa Granato                                                                                    luugac@gmail.com

IMG_2035“Eu estava ouvindo música – durante a aula, pois nunca fui aluno exemplar – e escutei a notícia de um acidente com o avião da TAM. Eu peguei o meu carro e cheguei ao local com a minha câmera, estava cheio de fotógrafos e jornalistas, mas ninguém podia se aproximar do acidente. Vi no canto um grupo de estudantes voluntários que levava água para os bombeiros e foi junto com eles que eu entrei no meio dos escombros. Escondi a câmera e entrei para ajudar. O grupo voltou e eu fiquei por lá, tirando fotos. Foi aí que tirei a foto que começou a minha carreira no fotojornalismo, um bombeiro no momento em que tirava a caixa preta da cabine de controle destruída.”

Assim Caio Guatelli abriu a palestra do segundo dia da V Semana de Fotojornalismo com o tema “Lugares”. O evento contou com a presença do fotógrafo que trabalhou para os jornais O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo, e também da arquiteta Dirce Carrion, responsável pelo projeto “Olhares Cruzados”, que usa a fotografia como forma de troca de visões de mundo entre crianças e adolescentes da América Latina e África.

Guatelli relatou sua experiência no Haiti em 2010, quando o país foi arrasado por um terremoto e o fotógrafo foi chamado pela Folha para fazer a cobertura. Embora já tivesse passado por Porto Príncipe, acompanhando a visita do ex-presidente Lula pela América Latina, ele nunca estivera no meio de um desastre como aquele, e ele registrou o estado de carência e desespero daquelas pessoas e conta que isso o fez sentir um intruso. Mas logo o sentimento tornou-se o de ameaçado, quando ele presenciou um conflito entre haitianos e a polícia, que tentava manter as pessoas afastadas de um banco colapsado.IMG_2033

E no meio do caos e de tiros, uma foto icônica. Um homem caiu morto e seus pertences foram levados por pessoas da aglomeração que reviraram seus bolsos. Guatelli fotografou o último dólar sendo tirado do morto. Essa foto foi mostrada numa apresentação junto de outras fotos feitas na semana que passou lá após o terremoto, assim como o ensaio que ele fez das eleições no Haiti um ano depois. A última impressão que deixa dos haitianos, compartilhada por Dirce Carrion, é de um povo bonito em todos os sentidos. “Além da beleza física, é a beleza humana mesmo. É um povo cheio de dignidade e orgulho”.

Então chega a vez da segunda palestrante, Dirce Carrion falar sobre o trabalho do Olhares Cruzados, projeto que por meio de fotos e cartas estabelece um contato entre crianças brasileiras e africanas. Em comunidades do Caribe, da América Latina e da África, um grupo de crianças recebem máquinas analógicas e devem registrar como são suas vidas em 36 fotos. A fotografia, para Carrion, é acima de tudo uma forma de olhar o mundo e, nas mãos dessas crianças é possível perceber a forma como elas veem seu mundo, muito diferente do olhar superficial dado pelo resto do planeta. “Reconhecer sua própria realidade é um processo educativo.”.

No final do projeto, é feita uma exposição em que os participantes são convidados e todas as crianças recebem um livro com todas as fotos para guardar e lembrar. Dirce Carrion comentou da coincidência de ter sido convidada a dar palestra junto com Caio Guatelli, pois a segunda vez que o projeto ocorreu, em 2005, o local escolhido foi o Haiti. Ela mostrou em seguida as fotos tiradas pelas crianças haitianas. Nessas fotos, podia-se ver a preocupação de ter as vestimentas bem alinhadas para ir à escola e a presença da televisão como forma de mostrar suas posses. Somente com 36 chances para mostrar toda sua realidade, as crianças são forçadas a tornarem-se seletivas no que realmente precisam retratar, pois essas fotografias serão sua forma de se expressar para o mundo.