quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Como se construiu a 29ª Bienal

Por Rafaella Peralta
rafalps23@gmail.com

Entre os dias 20 de setembro e 12 de dezembro, o Parque do Ibirapuera recebeu a 29ª Bienal de Artes de São Paulo. Segundo os organizadores, aproximadamente meio milhão de pessoas foram ao Pavilhão Ciccillo Matarazzo conferir as 850 obras expostas no local. Ao todo, 159 artistas de 35 nacionalidades foram convidados para expor no evento que teve como tema a relação entre a arte e a política.

Manutenção e montagem
Para que tudo ficasse pronto a tempo da estreia, cerca de dois mil homens trabalharam na montagem das obras, que começou com mais de dois meses de antecedência, no dia 5 de julho. De acordo com Mário Rodrigues, gerente de RH, Materiais e Manutenção da Bienal, durante os 84 dias em que a exposição ocorreu, cerca de trezentas pessoas, entre seguranças, bombeiros, faxineiros, guarda-volumes, equipe de manutenção das obras e do posto médico, trabalharam diariamente no local.

Monitores
Os trezentos educadores, contratados para monitorar as visitas orientadas, foram escolhidos pela curadora do projeto educativo, Stela Barbieri, entre quinhentos estudantes dos cursos de Artes Visuais, Arquitetura, Design, Letras, História, Geografia, Filosofia, Ciências Sociais e Pedagogia que participaram de um curso de formação. Promovido através de uma parceria estabelecida com 24 instituições culturais de São Paulo, entre elas o MAC, o MASP e a Pinacoteca do Estado, o curso aconteceu entre os dias 30 de abril e 23 de junho.

A presença da interatividade
Algumas obras contaram com uma participação especial do público em sua construção. Já do lado de fora do pavilhão, “Os mestres e as criaturas novas (remixstyle)”, trabalho da artista angolana Yonamine, atraía muita atenção. Estrategicamente localizada ao lado de uma janela, com o intuito de aproveitar a luz natural do Sol, a obra era composta por inúmeros exemplares de jornais brasileiros amassados, rasgados e espalhados pelo chão. “No primeiro dia, na inauguração, os jornais estavam todos empilhados, igual você compra na banca de jornal, mas a ideia da artista era que ficasse do jeito que está”, conta Rodrigues. Além disso, uma cortina constituída por sacos de plástico transparentes, novos e reciclados, na qual os espectadores foram convidados a deixar mensagens escritas, também constituía a obra.

Presente no terceiro andar do pavilhão e idealizado pelo artista plástico paulista Henrique Oliveira, “A Origem do terceiro mundo” foi outro trabalho que permitiu uma maior participação dos visitantes. A obra consistia em um túnel de cerca de quarenta metros, construído com madeira de demolição e canos de PVC. Na entrada da instalação, monitores e bombeiros orientavam os espectadores a tomar cuidado com pregos e possíveis farpas que pudessem se soltar durante sua passagem. Apesar disso, além da reposição de lâmpadas, da limpeza e da fixação de alguns pedaços de madeira que se soltaram, a obra não sofreu maiores intervenções. A ideia era que o próprio desgaste causado pela movimentação do público em seu interior também se transformasse em um dos componentes da obra.

Desmontagem
Após o encerramento da exposição, no último dia 12, a desmontagem da Bienal levou, ao todo, onze dias para ser concluída. Seis deles foram gastos apenas na desmontagem das obras de arte, outros três para que toda a cenografia fosse retirada e os dois últimos foram reservados para a limpeza do prédio.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Exposição de Laurie Anderson une arte e tecnologia

Por Meire Kusumoto e Paula Zogbi
meirekusumoto@gmail.com/ paulichas@gmail.com

A musicista e artista plástica americana Laurie Anderson tem algumas obras expostas até o dia 26 de dezembro no Centro Cultural Banco do Brasil, no centro de São Paulo.

Entre as atrações, estão um travesseiro que toca música e a mesa que transmite sons através dos ossos do visitante.

I in U - Eu em Tu - Laurie Anderson
Centro Cultural Banco do Brasil
R. Álvares Penteado, 112 - Centro
Terça a domingo: 10h às 20h
Grátis
Informações: 3113-3651

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

[Científico] A linguagem do jornalismo científico

Por Juliana Santos
juliju-santos@hotmail.com

Um dos principais atrativos do jornalismo científico é a diversidade de temas explorados. Por esta razão, nós vimos anteriormente a importância de estar por dentro do assunto e se relacionar bem com as fontes, a fim de obter informações precisas e relevantes. Mas, após a apuração, há ainda mais um desafio para o jornalista científico: a linguagem utilizada na hora de escrever a matéria.

O caderno de economia costuma ser o campeão de críticas, por ser escrito com uma linguagem considerada muito específica e complexa para leitores que não são da área – o chamado “economês”. Mas esse problema não é exclusividade dos economistas. Para Alexandre Gonçalves, repórter do caderno Vida, do Estado de São Paulo, existe também o “cientificês”.
O uso de linguagem inadequada na cobertura científica provoca um afastamento ainda maior do que aquele que se espera normalmente por parte do leitor. “Ele vai começar a ler a notícia e pensar ‘não, ele não está falando comigo, esse repórter não escreveu isso para mim’ e então vai virar a página”, afirma Alexandre.

Para que isso não aconteça, é preciso fazer a passagem do discurso do especialista para uma linguagem compreensível aos leitores. Mas Wilson Bueno, ex-presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Científico, chama atenção para um fato importante: “existe aí um limite para não subestimar a capacidade do leitor/espectador”. “Deve-se tomar cuidado para que a divulgação não se torne vulgarização. O termo difícil, técnico, pode ser entendido pelo público, desde que bem utilizado”, concorda Beth Gonçalves, pesquisadora de Comunicação Científica e Tecnológica.
Segundo Alexandre, a questão da linguagem é uma das razões do receio que apresentam alguns especialistas ao serem entrevistados. “Eu acredito que às vezes o grande temor que os pesquisadores têm é que a sua linguagem se perca e você acabe falando algo que as pessoas entendem, mas que não é o real, não está correto”.

Entender bem o assunto é primordial
A primeira medida a se tomar para não ficar preso aos termos usados pelo entrevistado e poder transmitir a informação ao público com clareza e precisão é sem dúvidas a velha dica: entender bem o assunto. “É preciso que primeiro o jornalista tenha uma clara ideia do que vai noticiar, para poder explorar com as fontes maneiras de interpretar as informações recebidas e poder repassá-las ao público”, alerta Simone Pallone, jornalista da revista ComCiência. Alexandre Gonçalves conta que age da mesma forma: “o que eu costumo fazer é pedir para a pessoa me explicar o assunto e depois eu repito varias vezes para que ela cheque se a minha compreensão está correta”.

A importância do meio
O veículo para o qual se escreve também influencia na linguagem utilizada. Publicações possuem públicos-alvo distintos, de forma que numa revista especializada é preciso ser menos didático do que num jornal diário. Wilson Bueno dá outro exemplo: “a linguagem do Estadão é diferente do Jornal Nacional”. Segundo ele, os leitores do Estado são em sua maioria estudantes e pessoas escolarizadas, enquanto o Jornal Nacional é apresentado a um público bem mais abrangente e heterogêneo – e tais fatores devem ser levados em conta na hora de se escolher a linguagem empregada.