quarta-feira, 27 de outubro de 2010

[Científico] O caminho das pedras

Por Juliana Santos
juliju-santos@hotmail.com

No último post, conhecemos um pouco a história e a importância social do jornalismo científico. Agora, conversando com jornalistas e pesquisadores da área, reunimos algumas dicas para aqueles que se interessam pela cobertura científica.

ciencia[1]Entre os pontos mais ressaltados estão a vontade de estudar e se informar  sobre o assunto e o cuidado na hora de se relacionar com as fontes - para evitar conflitos nesta relação que já é tão delicada. Além disso, um bom jornalista científico deve saber lidar com infográficos e ter domínio da língua inglesa.

Formação
O jornalista científico tem de lidar com uma grande diversidade de temas complexos. Isso torna essencial que ele possua um conhecimento especializado na área, para que possa se articular sobre o assunto e não apenas reproduzir o que dizem seus entrevistados.

No entanto, não existe uma formação exata e obrigatória para esse profissional. Ele pode tanto se formar em um curso superior voltado à ciência (física, biologia, engenharia, etc) e se especializar em jornalismo, como pode ser um jornalista que cursa uma especialização, ou mesmo que seja mais autodidata e se interesse pela área.

“Não há nenhum curso no Brasil que prepare integralmente para a área de ciências e tecnologia”, afirma Wilson Bueno, primeiro doutor em Jornalismo Científico do Brasil e ex-presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Científico. Por esta razão, cabe ao jornalista se aprimorar cada vez mais. Para isso, ele não precisa necessariamente fazer um curso: pode ler, estudar por conta própria e até mesmo freqüentar congressos científicos. “Precisa ter disposição para encarar temas complexos, estudar mesmo”, completa Wilson.

"Em geral envereda para a ciência quem já tem um certo encanto por essa área”, reforça Alexandre Gonçalves, repórter do caderno Vida, do Estado de São Paulo.

Fontes
No jornalismo científico, o relacionamento com as fontes (em geral cientistas e pesquisadores) pode ser turbulento. Existe uma tensão, um receio de que o jornalista não reproduza corretamente as informações – que necessitam de precisão. Questionada sobre o problema da divulgação de informações, Beth Gonçalves, pesquisadora de Comunicação Científica e Tecnológica, foi categórica: “Com certeza! É o grande dilema que se vive. Há uma reserva de informações”.

Alexandre ressalta a importância de estar bem informado sobre o trabalho do entrevistado: “se tem uma coisa que irrita um pesquisador é você chegar pra conversar com ele e falar ‘e aí, o que tem de importante? ’. Você demonstra claramente que não entendeu nem o abstract do que ele escreveu, que você está pedindo pra ele ‘pelo amor de Deus, me explica alguma coisa’”.

Na hora de escrever, o que importa não é concordar plenamente com o entrevistado, mas jamais alterar ou descontextualizar seu ponto de vista.

Segundas intenções
É preciso estar atento para que uma notícia sobre alguma inovação científica não se torne propaganda de uma empresa ou produto. “É comum a divulgação de um dado de pesquisa científica estar acompanhada do produto, por exemplo, que utiliza os resultados dessa pesquisa. O jornalista deve saber distinguir os propósitos da divulgação para não ser conivente com práticas não éticas”, alerta Beth Gonçalves.

O que o jornalista deve fazer, mesmo em casos em que apenas uma instituição detém a tecnologia que se pretende noticiar, é buscar fontes independentes. “É preciso estar atento à interferência de interesses não científicos. Perceber o que está por trás das notícias”, alerta Wilson Bueno.

Alexandre Gonçalves conta que diversas vezes recebeu convites de viagens ou jantares. “O repórter nem cogita passar isso para uma instância superior, barra nele mesmo”, conta. “Geralmente são pautas que eu acho furadas. É muito claro que é propaganda”.

What?
Falar inglês é fundamental nessa área. Faz parte do cotidiano do jornalista científico falar com pesquisadores no exterior, ler revistas científicas famosas e procurar “papers” (artigos científicos) que são produzidos majoritariamente em inglês. “A ciência no mundo todo se comunica em inglês”, declara Simone Pallone, jornalista da revista ComCiência.

Beleza e utilidade
Que tal um infográfico para facilitar o entendimento de um processo biológico complicado? A área científica é uma das que mais se utiliza deste recurso, tanto para despertar o interesse do público quanto para tornar a informação mais palatável. Por isso, é preciso que o jornalista tenha afinidade com a infografia, saiba “pensar graficamente” para enriquecer suas matérias.

E não adianta dizer que não sabe desenhar. A maioria dos veículos possui uma seção de infografistas. "O que você precisa saber fazer são esboços, mesmo que seja em papel, desde que você consiga organizar suas idéias de modo que seja viável de ser infografado", explica Alexandre.

Enfoque
O avanço da ciência faz com que constantemente criem-se mais pautas para o jornalismo científico. Para Wilson Bueno, esse crescimento faz com que os veículos acabem sendo praticamente “forçados” a cobrir a área. Desta forma, um jornalista especializado, capacitado a sugerir boas pautas, pode abrir as portas para o jornalismo científico no veículo em que trabalha. Para isso, é preciso que sua visão sobre a ciência seja capaz de adaptar as matérias ao público-alvo do veículo.

A pesquisadora Simone Pallone afirma que, no jornalismo científico “é preciso que o jornalista entenda que nem sempre o resultado da pesquisa é a única informação importante. Os processos científicos são valiosos para a evolução do conhecimento, assim como o avanço de uma área da ciência em termos de aumento de pesquisadores, atenção que vem recebendo, e recursos”.

domingo, 24 de outubro de 2010

[Científico] Um pouco de história

Por Carolina Vellei
carolina.vellei@gmail.com

O JC começou a ser pensado logo depois da invenção da imprensa de tipos móveis de Gutenberg. Logo as idéias e descobertas eram divulgadas pelos cientistas, mas claro, ainda para um público limitado de letrados. O JC propriamente dito surgiu somente dois séculos depois. Em 1609, na Alemanha, despontavam alguns periódicos que faziam divulgações científicas. Ao mesmo tempo, o astrônomo italiano Galileu Galilei publicava o livro “Mensageiro Celeste” que contestava alguns dogmas religiosos. A publicação despertou a ira da Igreja justamente por ter uma linguagem clara e objetiva (um dos princípios do JC) e, portanto, acessível à população.

Esse período foi de grande efervescência para a ciência, o que acabou provocando uma imensa troca de cartas entre os cientistas. Em meados do século XX, Henry Oldenburg, cientista alemão, percebeu que o caráter informal e fragmentado delas tinha potencial para publicação em jornais. O alemão criou diversos periódicos, sendo o mais importante o Philosophical Transactions, que durou mais de dois séculos, e serviu de referência para as diversas publicações científicas modernas. E assim nasce a profissão do jornalista científico.

E no Brasil?

Aqui no Brasil, excetuando-se alguns casos pontuais, o JC começou a ser pensando depois da Primeira Guerra Mundial, com preocupações armamentistas. Um dos motivos desse retardo é a nossa história de censura e controle dos meios de comunicação. Outro é justamente a histórica falta de investimentos em Ciência e Tecnologia (C&T). Isso começou a mudar um pouco durante a ditadura militar. Graças à doutrina nacionalista do período, para tornar o país “soberano e independente” os militares investiram fortemente em desenvolvimento tecnológico. Porém, o jornalismo científico foi rigorosamente censurado e era obrigado a divulgar os avanços de forma romântica e ufanista, bem ao gosto dos generais. Ainda hoje as atividades de C&T estão fortemente apoiadas no capital governamental.

Personagens de destaque do jornalismo científico

Podemos citar grandes precursores do cientificismo popular. Euclides da Cunha foi um deles. Foi jornalista, militar e engenheiro civil. No começo do século XX, registrou no livro Os Sertões diversas impressões sobre a região de Canudos. Eram recheadas de observações sobre a influência do clima, da qualidade da terra e outros fatores naturais na ação dos homens. Preconizador do jornalismo científico e ambiental contextualizado, Euclides mostrou que essas informações dão suporte à compreensão da realidade.

José Reis é considerado o patrono do jornalismo científico. Foi médico, pesquisador e jornalista e escrevia semanalmente na Folha de São Paulo de 1947 até 2002, quando faleceu. Grande incentivador da divulgação científica, Reis fundou em 1948, juntamente com outros cientistas, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. A SBPC foi criada para discutir a função social da ciência. Para ele, a ciência é intrinsecamente ligada à sociedade, devendo sempre trabalhar em prol de sua importância para o desenvolvimento e bem-estar do homem.

O boom do jornalismo científico

A década de 1980 agitou o mundo científico. A passagem do cometa Halley (1986), a descoberta da supernova de Shelton (1987), as diversas viagens espaciais e as questões ambientais causaram grande movimentação da mídia para a cobertura de eventos científicos. Ficava cada vez mais claro que C&T fazia parte da vida das pessoas mais do que elas imaginavam. Surgiram diversas revistas, e cada vez mais as editorias dos jornais se estruturaram e abriram espaço para esse assunto. Com o passar do tempo, as assessorias das universidades e das instituições voltadas à pesquisa começaram a se organizar e a produzir informativos sobre suas descobertas e, inclusive, a alimentar os veículos de comunicação com esses conteúdos.

Ainda hoje é um desafio produzir um jornalismo científico de qualidade. Em muitos casos ele ainda é carregado de romanticismo ou superficialidade. Isso é consequência de algumas abordagens que são apenas denuncistas e alarmistas, e que não analisam e expõem criticamente contrapontos para a sociedade.

[Científico] Especial: Jornalismo Científico

Por Carolina Vellei
carolina.vellei@gmail.com

Seu único contato com Jornalismo Científico (JC) se limitava até agora à leitura da Superinteressante? Se o seu sonho é trabalhar com JC só porque você é fã das curiosidades da revista, é preciso que você saiba um pouco mais sobre esse ramo do jornalismo para descobrir as outras inúmeras aplicações dele na sociedade.

Qual a importância de as pessoas terem acesso às informações científicas? Não é preciso ir muito longe para perceber que uma sociedade mais bem informada de seus avanços é capaz de analisar e agir mais conscientemente. A ciência é determinante no contexto social, uma vez que atinge economia, política, saúde e outras infinitas áreas. Grande parte dos investimentos em ciência vem dos cofres públicos. E quem escolhe os governantes que destinam essas verbas? O cidadão. O JC serve como ferramenta para que as pessoas possam opinar e analisar melhor as escolhas que irão interferir em suas vidas.

Durante o mês de outubro o Blog da Jornalismo Júnior apresentará diversos posts sobre o assunto para você saber mais. Confira!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

[Fotojornalismo] Fotografia na ONG Um Teto Para Meu País


“Eu não sei se a fotografia humaniza, mas me humaniza”. Márcio Ramos, fotógrafo voluntário da ONG Um Teto Para Meu País, conversou com a Jornalismo Júnior e contou mais sobre o seu trabalho e as fotos que tira. Confira a videorreportagem!